“Jardim do Seridó,
situada na Microrregião do Seridó Oriental e Mesorregião Central
Potiguar, Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, comporta uma realidade
política que, desde alguns anos, passa por transformações, em virtude do
contingente de eleitores estar, a cada dia, se manifestando de forma
cada vez mais heterogênea. Traçar o perfil do seu eleitorado, perante as
mudanças verificadas no seu quadro social não é tarefa
das mais simples. No entanto, pode-se perceber, num relance, através
dos movimentos e dos posicionamentos dos munícipes, que a antiga
credibilidade atribuída aos governantes do poder público já não goza do
mesmo respaldo.
O cidadão quer se promover, tanto quanto os seus gestores
e, nesse contexto, chega-se a perceber níveis de atitude tão
divergentes quanto as posturas assumidas pela mentalidade popular. A
decepção das massas perante as atitudes que regem os poderes dominantes é
o grande fator responsável pela evasão dos direitos e,
consequentemente, das esperanças num futuro melhor.
Em
outras palavras, se, por um lado, o protecionismo paternalista do
passado não mais encontra ressonância nos anseios da população, por
outro lado, as ideologias partidárias já se encontram bastante
enfraquecidas, pelo descrédito que assola, desde os mais altos escalões
da política, em nível nacional, até o contexto municipal das
prefeituras.
O
mau desempenho nos mandatos tem implantado a dúvida, o descrédito, a
proliferação das demagogias, de tal modo que, no desenrolar da realidade
política, resta ao cidadão, muitas vezes, unicamente aceitar o seu
quinhão de favor, por quatro anos de desmando, ou seja, de desrespeito
ao que, um dia, já esteve impresso na mente das pessoas como um sonho,
um ideal, ou o que mais se deseje, em termos de confiança num futuro
melhor para os seus filhos e os filhos dos filhos: O futuro nas mãos de
um governante.
Diante do panorama das oligarquias, dos conchavos e dos acertos dissimulados, atuantes na prática das licitações, o próprioconceito
de política assume sentidos por demais diversificados, gerando um
padrão de pensamento tão deturpado que propõe, num mesmo patamar ético, o
lícito e o ilícito.
Desse
modo, torna-se impossível focar o olhar para uma realidade
particularizada, desconsiderando a conjuntura de miséria, tão mal
disfarçada, principalmente porque o próprio poder já delegou sua
supremacia a tantas facções que, o que se poderia chamar de democracia
não passa de uma ilusão compartilhada, nos moldes de um big brother.
Surgem
então os questionamentos: Como depositar esperanças nas propostas que,
para ludibriarem do melhor modo, já pertencem à agenda dos marqueteiros,
munidos do melhor photoshop e de todos os artifícios postos para transformar o pleito num lance de sedução?
De
que modo a população poderia ter acesso à transparência nas gestões, se
a própria linguagem jurídica que, muitas vezes, defende as suas
improbidades, está apontada para níveis de entendimento que escapa à
ótica do cidadão mais comum?
Neste
cenário, o cinismo é o fator comum que governa e, como medida de
retorno, torna-se uma arma de desagrado na mão daqueles que comparecem
às urnas eletrônicas; um poder de resposta pautado na mesma atitude que
lhes desampara, revelado em resultados antagônicos, conduzidos pela
compra e venda do voto.
A solução para este quadro de terrível desolação estaria mesmo na mão de um mero cidadão comum?
Quem,
dentre os governantes, seria capaz de se comprometer com as diferentes
camadas sociais, nos moldes do discurso do Imperador Romano Carlos
Magno? Que programa político resistiria perante as suas propostas?
Para
repousar a mente numa breve pausa, contemplemos este complexo pano de
fundo, onde a verdade já não trilha o mesmo caminho, desde que as
emendas políticas abriram todas as fendas possíveis da linguagem para a
defesa dos réus e assim, por ordem de um “consenso”, cada peça
desempenha o seu movimento neste imenso “tabuleiro de xadrez”, em que as
estratégias se auto justificam a partir de golpes e mais golpes, por
uma mera falta de consciência a longo prazo.
Jardim
do Seridó, portanto, encontra-se permeada, em seu cenário político, por
todas as mazelas comuns à crise gerada pela negação dos valores
passados geração após geração, valores esses que foram diluídos, ou, por
que não dizer, triturados pela vulgaridade veiculada através de uma
mídia perversa e desestruturante, apesar de toda a sua pseudo pós
modernidade.
É
através de todo esse arcabouço, utilizado pelos meios de comunicação de
massa, que se assiste, dia após dia, a perda da identidade, nos mais
variados níveis: Moral, social, familiar e, enfim, individual.
Nesse
contexto desolador, analisado de modo tão aparentemente pessimista, os
nossos referenciais mais caros estão fatalmente comprometidos, fadados a
desaparecer nessa tremenda corrente materialista que instrumentaliza,
impiedosamente, a pessoa humana, reduzindo-a à condição de um mero
objeto: um número a mais, ou a menos, nas urnas.
Eis
aí o fator comum presente em todos os cenários políticos da nossa
contemporaneidade nacional, dos quais Jardim do Seridó não pode
prescindir. Afinal de contas, é a história dos paradigmas políticos do
Brasil, não da Finlândia”.
Bartolomeu dos Anjos Sales
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