sexta-feira, outubro 26

Presa no RN quadrilha que usava nome de ricos mortos para fraudes


Marcos Matsunaga, esquartejado em SP, foi a última vítima do esquema.
Grupo escolhia morto, comprava dados bancários e se passava por mortos.

Uma quadrilha que clonava cartões de crédito em nome de mortos foi presa nesta semana no Rio Grande do Norte.

Segundo reportagem do Fantástico exibida neste domingo (26), entre as vítimas estão pessoas ricas que morreram recentemente, como os empresários Marcos Matsunaga, esquartejado pela mulher em junho em São Paulo, e Domingos Costa, presidente da Vilma Alimentos, tradicional empresa de Minas Gerais que morreu em um acidente aéreo em julho.

A quadrilha escolhia as vítimas dentre personalidades que tinham a morte divulgada amplamente em jornais e pela televisão. Um dos chefes da quadrilha, Clóvis Almeida Araújo, preso nesta semana no Rio Grande do Norte, conseguiu um cartão de crédito, sem limite de gastos, com validade até 2015 em nome de Matsunaga um mês após a morte dele.


O departamento antifraude do banco suspeitou do caso e procurou a polícia, que começou a investigar a quadrilha. Ao ser preso, Araújo explicou por que a escolha de Matsunaga para a fraude: “Porque é uma pessoa que tem um limite bom e tem um cadastro bom perante as instituições financeiras”, respondeu o golpista. Além dele, outras oito pessoas suspeitas de participarem do golpe foram presas nesta semana.
As investigações revelaram que a quadrilha conseguia, além de cartões de crédito, financiamentos de carros de altos valores em nome dos mortos. Após escolher a vítima que teria o nome usado, a quadrilha comprava, de outros criminosos, cadastros com todas as informações pessoais dos mortos, desde o CPF até os dados bancários.
Entre as vítimas do golpe também está Fernando de Arruda Botelho, um dos donos da Camargo Corrêa, um dos maiores grupos empresariais do Brasil que morreu em abril em um acidente aéreo no interior de São Paulo. Após a tragédia, um golpista tentou comprar um carro no nome do empresário.
Em maio, a polícia registrou o momento em que um dos criminosos concluía a compra de uma caminhonete de R$ 142 mil em nome de Fernando Botelho, que havia morrido um mês antes da compra ser feita. Nas imagens, o suspeito Araújo chega à concessionária com a caminhonete ainda sem placas, conversa com a vendedora, e depois de um tempo, vai embora com o veículo já emplacado. Durante toda a negociação, ele se apresentou como funcionário de Botelho. E para fechar o negócio, a quadrilha falsificou a assinatura do morto.
“Eles escolhiam os mortos pela certeza de que eles não iriam atrás dos golpistas”, diz o delegado Ben-hur Cirino de Medeiros, que investigou o caso no Rio Grande do Norte. A polícia ainda investiga onde os golpistas usaram os cartões de crédito dos mortos: já foram comprados gastos em lojas de eletroeletrônicos, restaurantes e casas noturnas.

Outros estados
Outra vítima da quadrilha foi o funcionário do Tribunal de Justiça de Pernambuco Solleon Menezes, que morreu em um acidente de trânsito em Fortaleza no dia 10 de junho. Em julho, os suspeitos conseguiram financiar dois carros em nome dele. Juntos, os carros custam mais de R$ 100 mil e nenhuma prestação do financiamento foi paga. Segundo a polícia, os carros adquiridos pelos golpistas são revendidos logo após a compra.
“Existem já receptadores contatados e essas pessoas adquirem esses veículos por preço bem abaixo do mercado”, explica o delegado.
Esta semana, o Fantástico localizou um dos carros que estão no nome de Solleon Menezes, circulando normalmente em Natal, capital do Rio Grande do Norte, onde a quadrilha se concentra. Quem dirigia é outro integrante da quadrilha, chamado Tiago Cortez da Cruz, de 28 anos, segundo a polícia.

Ele também foi flagrado recentemente se passando por Domingos Costa, presidente da Vilma Alimentos, que morreu após a queda de um avião em Minas. Na quinta-feira (22), Tiago ligou para uma concessionária, e como se fosse o empresário, disse estar interessado na compra de uma caminhonete.

Nesta semana, Tiago também pediu dois cartões de crédito em nome de Domingos Costa, mas a farsa não foi finalizada, pois um funcionário do banco ligou para checar as informações. O funcionário fez uma série de perguntas sobre o verdadeiro Domingos Costa. A polícia já sabe que Tiago também se passou por outros mortos. Entre eles, estão um auditor da Receita Federal, dois desembargadores, um engenheiro e o empresário Marcos Matsunaga.

Uso dos cartões de crédito
Um produtor do Fantástico foi até um dos endereços usados pela quadrilha para pedir os cartões em nome dos mortos, em Natal, e confirmou que parentes de Tiago moram no local, mas desconhecem o golpe. Tiago mora em Jaboatão dos Guararapes (PE) e já havia sido preso em 2007, por clonagem de cartões. 
Segundo as investigações, quando precisava de dinheiro vivo, a quadrilha passava os cartões em uma distribuidora de bebidas e em um salão de beleza, que ficam em Natal.O salão é de propriedade de uma ex-mulher de Clóvis Araújo. Ele também já havia sido preso em 2007 por assalto com reféns.
Ao ser preso, Clóvis negou que ele e a ex-mulher tenham participação nas fraudes. Sobre a caminhonete em nome de Fernando de Arruda Botelho, disse que não sabia que o empresário estava morto. Já Tiago, que foi preso quando saia de casa em Pernambuco, confessou os golpes e disse que Clóvis era o chefe da quadrilha, segundo a polícia.
Os bancos, que ficam com os prejuízos das fraudes, recomendam que a famílai, assim que possível, avise as instituições financeiras sobre a morte de um parente.
No Rio de Janeiro, outros golpistas também pediram um cartão de Marcos Matsunaga, logo depois da morte dele, e as investigações continuam.
“Outros trabalhos estão sendo intensificados na procura desses indivíduos, desses delinquentes que estão causando grande prejuízo à sociedade, um prejuízo ao comerciante e ao cidadão. Isso é uma afronta, é um desrespeito à pessoa que morreu, como também a seus familiares”, diz o delegado-geral da Polícia Civil do Rio Grande do Norte, Fabio Rogerio Silva.
G1 SP

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